Leitores do Além do óbvio, vocês sabem todos os textos aqui nesse blog são escritos por mim mesmo mas li essa matéria e não tem como não postar.
Veja até aonde os governantes usam a maquina publica para influenciar nas eleições.
Abstenção pode ser tiro no pé
Por Lúcia Hipólito - O Globo
Durante a ditadura, era comum o governo federal decretar ponto facultativo para esvaziar o Centro do Rio em dia de manifestação programada com antecedência.Como era grande a concentração de servidores públicos federais no Rio de Janeiro, a medida visava evitar a adesão dos funcionários às manifestações.Assim aconteceu numa 4ª-feira, 26 de junho de 1968. Muita gente ainda se lembra de que a medida do governo resultou em fracasso retumbante.A classe média carioca reagiu. Estudantes, intelectuais, profissionais liberais, donas-de-casa e funcionários públicos tomaram o Centro do Rio, marcharam pela avenida Rio Branco, da Candelária até a Cinelândia, e a Passeata dos Cem Mil entrou para a história da resistência à ditadura.O mesmo aconteceu numa 3ª-feira, 10 de abril de 1984.Apesar do ponto facultativo decretado pelo governo do general Figueiredo, mais de um milhão de cariocas foram ao gigantesco comício das diretas, em frente à igreja da Candelária. Um oceano de gente estava ali só para pedir eleições diretas para presidente da República.Lembrei destes dois episódios porque o governo do Estado do Rio decidiu marcar o dia do Funcionário Público, um feriado tradicionalmente móvel, para segunda-feira, dia 27, 24 horas depois do segundo turno da eleição para prefeito. (Ato do governador foi publicado ontem, no Diário Oficial do Estado)Criou-se um feriadão, com uma eleição no meio, para fabricar uma abstenção monstro.Espero que os estrategistas da campanha de Eduardo Paes tenham calculado cuidadosamente todas as conseqüências deste ponto facultativo.É manobra de altíssimo risco, que pode ter resultados inteiramente contrários ao que desejam seus autores.Pode gerar nos cariocas uma brutal rejeição ao candidato, como nos tempos em que a ditadura tentava reprimir a livre manifestação da população.Ou como reagiu a sociedade civil de todo o país, quando o então presidente Collor incentivou o povo a vestir verde e amarelo num domingo, para mostrar apoio ao governo, e a população vestiu-se de preto, de Norte a Sul do Brasil.E finalmente, um detalhe preconceituoso. O candidato que se diz o preferido dos mais carentes quer beneficiar-se de um feriado que só a classe média e os ricos podem aproveitar, porque os pobres não têm dinheiro para sair da cidade. Mas ai dos cariocas pobres que precisarem de algum serviço público fornecido pelo estado nesses três dias de feriado. Vão dar com o nariz na porta.
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Postado por
Rafael S. Lindo
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
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